Atleta Idoloásis Josué Sá em entrevista exclusiva ao jornal “O Jogo”

Pouco tempo depois de ter saído de Portugal rumo à Bélgica e ao campeão Anderlecht, Josué Sá concedeu uma entrevista ao jornal “O Jogo”.

 

Custou-lhe sair depois de sete anos no Vitória e apesar da ambição de melhorar a sua vida?

– Custou muito. Guimarães era a minha casa, estava familiarizado com tudo, o meu dia a dia no clube era quase automático… Mas, paradoxalmente, também foi esse conforto que me fez querer sair. Não ter fome de evoluir é algo perigoso para um jogador.

 

Já conseguiu desligar-se emocionalmente do Vitória?

– Não, isso não. Vejo os jogos todos, vibro com a equipa, sofro com este ciclo que o Vitória está a atravessar. Tenho sempre tendência para ver o jogo e sentir-me dentro dele, porque conheço o clube tão bem. Oiço os adeptos e penso que aquele jogador está a sentir pressão devido aos assobios ou que outro está a ser aplaudido e está a sentir-se como o menino bonito. É como se ainda lá estivesse.

 

Quem passa pelo Vitória diz que fica vitoriano. Mas, afinal, o que é isso?

– Quando ouvia companheiros a dizer que iriam ser sempre do Vitória, pensava que o faziam para serem politicamente corretos. Agora que saí, vejo que é um sentimento inexplicável. Em comparação com outros clubes semelhantes, como o Braga, a paixão no Vitória é diferente. A maneira como os jogadores se entregam, mas também como se vibra com os triunfos e as derrotas. É impossível ficar indiferente. Foi uma história bonita da minha vida e vou sentir-me sempre ligado ao clube.

 

Ao fim de dois meses, o Vitória ainda não se afirmou. A saída de quatro titulares serve de explicação?

– As equipas estão em constante remodelação e o ADN está sempre lá. Os jogadores já tinham comentado que este ano seria muito difícil. Primeiro, por causa das competições europeias, porque os jogadores não têm muita experiência a esse nível. Com jogos de três em três dias é normal um jogador não estar a cem por cento em termos físicos. E a este nível paga-se a fatura. Quanto às saídas, o Vitória tem sempre lidado com essa situação ano após ano.

 

O Vitória assumiu a luta pelo quarto lugar. Isso pode estar a pesar nos jogadores?

– Não creio. Mas sei que a fasquia ficou alta e os adeptos deixaram de admitir certos resultados, como empatar com o Paços de Ferreira, por exemplo. As equipas nem sempre estão bem, veja-se o caso do Benfica. Com dois ou três triunfos seguidos, o Vitória ficará de novo no topo. O Pedro Martins é bom a inverter ciclos, ou seja, a motivar a equipa nas fases teoricamente mais complicadas. E quando o Vitória inverter o ciclo não vai ser fácil travá-lo; a onda da época passada vai voltar a sentir-se.

 

Este plantel é tão equilibrado como o anterior?

– É difícil avaliar por esse prisma. Quando se diz que o plantel da época passada era melhor esquece-se, por exemplo, que o Marega não era visto da mesma forma como está a ser olhado este ano. O plantel é equilibrado e bom. Esta nuvem vai passar e o objetivo do quarto lugar, ou o da Liga Europa, irá ser conseguido.

 

Quais os jogadores que estão a sobressair?

– Além do Pedro Henrique, tenho gostado do Heldon e do Raphinha, que, nesta altura, é um dos extremos mais talentosos em Portugal.

 

Chegou ao Anderlecht com o campeonato em andamento e, entretanto, o clube mudou de treinador. Como está a correr a experiência?

– René Weiler saiu ao fim de três jogos e ficou o adjunto, Nicolas Frutos, tendo depois entrado Hein van Haezebrouck. A experiência está a ser muito positiva. Nunca tinha saído de Portugal e a adaptação está feita. É um futebol muito físico e, por isso, estou a fazer um trabalho para ganhar dois quilos e meio de massa muscular.

 

Já tinha feito esse trabalho no Vitória…

– Sim, mas aqui é diferente. Além do campo, faço esse trabalho no ginásio e com um plano de alimentação. Aqui como mais; em vez de cinco vezes ao dia, como sete.

 

Como é que é isso?

– Faço o pequeno-almoço e, no fim do treino, eles preparam-me um batido e uma barra de proteína e sigo para o ginásio. Sem deixar passar muito tempo, almoço no refeitório do clube e incluo sempre muita sopa, algo que não fazia. Em Guimarães saía do treino, ia ao ginásio e almoçava cerca de uma hora e meia depois em casa. À tarde, faço um lanche leve às 15h30 e às 18 horas um lanche pesado, para depois jantar às 20h30. E volto a comer antes de dormir. São sete refeições. O trabalho na Bélgica é mais intenso nos treinos. Além de capacidade técnica, é crucial ter capacidade física. Tive dificuldades no início e com tantas coças quase desmaiava. A componente física era uma das coisas que me faltava. Em Portugal, o futebol é mais rico taticamente e aqui é mais físico; os jogadores aguentam 90 minutos a correr. Normalmente, os jogos partem a meio, com ataques dos dois lados, um pouco ao estilo do antigo futebol inglês.

 

Como é viver em Bruxelas?

– É bom, mas é uma cidade cara, em que um café pode custar 2,5 euros, e com um trânsito infernal. Moro a oito quilómetros do centro de treinos e demoro meia hora a chegar lá.

 

Fonte: O Jogo

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